O Brasil conta com mais de um milhão de advogados inscritos nos quadros da OAB. Os números são impressionantes e aumentam a cada ano, por conta do grande número de cursos de Direito existentes no país. O Exame da Ordem ainda se apresenta como uma espécie de ‘filtro’ adequado para o ingresso profissional, diante do grande número de bacharéis formados a cada semestre.
Então, após cinco anos de curso e a devida aprovação no Exame, o profissional está apto a atuar e se depara com uma realidade que muito possivelmente não lhe fora apresentada nos bancos universitários: a da inteligência artificial. Antes relegada a outras áreas, de aplicação que soava distante no mundo jurídico, não o é mais. Se a existência de robôs humanoides aptos a executar tarefas físicas é distante, programas de computador que possam complementar ou mesmo substituir atividades intelectuais são uma realidade.
O advogado, no entanto, não pode ver, nessa dificuldade, uma barreira, mas sim uma ferramenta para seu crescimento e incremento profissional. Os tribunais passaram a adotar algoritmos para auxílio na separação temática de processos, a exemplo do Supremo Tribunal Federal com o VICTOR. Assim como no Judiciário não parece haver espaço, até o momento e pelos anos que virão, para que os juízes sejam substituídos por esses programas, o mesmo deve ser visto na perspectiva da advocacia.
Isso significa que a atuação do advogado sofrerá alterações, a depender da área, bastante profundas, especialmente naquelas que envolvam litigância de massa ou algum tipo de trabalho repetitivo, como revisão de contratos de locação, por exemplo. Esse tipo de tarefa é estatisticamente melhor desempenhada por esses ‘robôs’, a um custo geral mais baixo (na perspectiva do próprio escritório, o que pode resultar em um preço menor para o cliente, considerando que esses programas também requerem alto investimento financeiro).
Nisso tudo, percebe-se que o futuro da advocacia é tecnológico e altamente competitivo. É indispensável a atualização do profissional para manuseio dessas novas ferramentas, a fim de que possa interagir com a nova realidade dos tribunais e as exigências dos clientes. Nada disso é pior ou mais difícil do que os desafios enfrentados no passado analógico recente: é apenas diferente e requer esforço.
*Autor: João Paulo Forster
Publicado no Jornal do Comércio de 23 de janeiro de 2020